Marinheiro de Guerra é uma história real? A verdade sobre a série da Netflix

A série dramática de guerra da Netflix, Marinheiro de Guerra, conta a história de dois homens, Freddy e Sigbjørn. Os dois trabalham em um navio mercante norueguês. Eles se envolvem na Segunda Guerra Mundial quando a Noruega declara que todos os seus navios vão ser usados para ajudar os aliados.

Apesar de serem civis, pessoas como Freddy e Sigbjørn são jogados no calor da guerra sem meios de se defender. Enquanto isso, em casa, duas famílias tentam sobreviver sob a ocupação nazista de seu país. Escrito e dirigido por Gunnar Vikene, Marinheiro de Guerra é um retrato angustiante dos efeitos da guerra e como ela separa famílias e amigos. Além de deixar marcas indeléveis em suas vidas.

Considerando que a história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, você deve estar se perguntando se os eventos apresentados na série da Netflix são verdadeiros. É justamente isso que vamos descobrir logo abaixo.

Marinheiro de Guerra é uma história verdadeira?

Sim, Marinheiro de Guerra é baseado na história real de marinheiros noruegueses durante a Segunda Guerra Mundial. Na série, Freddy e Sigbjørn partem antes que a Alemanha invada a Noruega em 1940. A guerra já estava no auge nessa época. O governo norueguês ficou ao lado dos britânicos e os ajudou com navios e outros recursos.

Esses navios mercantes, como os que aparecem em Marinheiro de Guerra, não estavam equipados para a batalha, mas eram usados para fornecer armas e outras coisas essenciais através do oceano. Acredita-se que metade do total dos navios que ajudaram na guerra foram destruídos durante a batalha, com milhares de pessoas mortas, mas não existem números que confirmem essa quantidade.

Ao contrário dos soldados no campo de batalha, os civis não receberam o crédito que mereciam por seu serviço. Isso é o que Vikene queria destacar com esta história. A série foi concebida como um filme, tornando-se a produção mais cara da história da Noruega.

O filme também foi a entrada oficial do país no Oscar de 2023. Posteriormente, foi adaptado para um programa de tv, o que expande o escopo do filme ao incluir as filmagens que foram cortadas no filme Marinheiro de Guerra.

Como surgiu a ideia para fazer Marinheiro de Guerra?

A ideia da história surgiu na cabeça do diretor quando ele tinha 13 anos. Então Vikene disse:

“Meu pai era pintor e eles (civis que participaram da guerra) eram seus colegas. Eles estavam se automedicando com álcool e muitos estavam traumatizados. Estávamos pintando um silo de farinha, e um deles tirou a camisa e foi andando pela beirada, a 60 metros do chão. Ele estava brincando com sua vida.”

Quando ele se perguntou porque alguém seria tão descuidado com sua vida, seu pai explicou que o homem havia sobrevivido a coisas muito piores. Ele tinha visto os horrores da guerra e foi torpedeado duas vezes. Este incidente ficou marcado no jovem Vikene e, como é de se imaginar, teve impacto direto na criação de Marinheiro de Guerra.

Ao longo dos anos, ele colecionou histórias de tais marinheiros, incluindo seus familiares que trabalhavam na área. O fato de haver milhares desses navios de diferentes países transportando civis e eles raramente, ou nunca, serem mencionados no contexto da guerra parecia injusto para Vikene.

E podemos dizer que isso o afetava de forma até mais pessoal, já que ele também era engenheiro de submarinos antes de se dedicar ao cinema. Desta forma, a série tinha a obrigação de contar a história dessas pessoas esquecidas e foi isso que a série fez. Vikene relatou:

“Eles são os heróis desconhecidos daquela guerra. Eles foram apanhados nela e não podiam (tomar decisões) por si mesmos. Então, depois da guerra, eles não se encaixam na ideia de herói de guerra porque não tinham uniforme, armas e medalhas. E assim foram esquecidos e maltratados depois da Segunda Guerra Mundial.”

A série surgiu da injustiça com os civis que voltaram da 2ª Guerra Mundial

Por meio de Marinheiro de Guerra, Vikene queria apresentar os eventos da perspectiva da classe trabalhadora, observando que 90% das pessoas que morrem na guerra hoje são civis. Ele finalmente escreveu essa história quase 30 anos depois. Uma conversa com sua filha sobre as mortes de crianças na Síria em 2015 o estimulou a escrever.

“Havia uma imagem de um menino no fundo de uma ambulância, coberto de poeira, com olhos grandes e chocados.”

Neste momento, a filha de Vikene começa a chorar e diz:

“Fico tão feliz por não vivermos em um país onde temos que passar por isso.”

Então, Vikene aponta para a janela e diz:

“Bem ali, nossa família perdeu seus filhos.”

Esta última frase faz referência ao bombardeio da escola, que matou muitos civis, inclusive crianças, na cena presente em Marinheiro de Guerra. Eram tragédias como essa que o diretor queria mostrar ao espectador. Chamando-o de um filme sobre sobrevivência, Vikene disse que não queria romantizar guerra, mas contar o que aconteceu de verdade.

Ele não queria ser como tantos outros filmes do gênero que tem essa visão mais romantizada. Ele queria uma história sobre “tornar-se o lar de seus entes queridos, não sobre heroísmo em ação. Era mais sobre as consequências da guerra e o que acontece com as famílias após esse episódio”.

Embora o filme recrie eventos reais, o diretor não o considera um filme biográfico. Os personagens da série são baseados em pessoas reais. Contudo, Vikene revelou que são versões fictícias em oposição à representação precisa de pessoas da vida real.

Ele tomou algumas liberdades criativas ao retratar os personagens e eventos. Mas em sua essência, ele manteve a série tão baseada na realidade quanto possível.

Sobre a série

Marinheiro de Guerra estreou no dia 3 de abril na Netflix. Inicialmente, a obra seria um filme, mas o serviço de streaming decidiu lançar o conteúdo dividido em 3 partes. Cada episódio tem cerca de uma hora, totalizando 3 horas de imagem. É bastante coisa, mas dá para você ver um episódio por dia, se desejar.

O elenco conta com Kristoffer Joner, Pål Sverre, Valheim Hagen, Ine Maria Wilmann, entre outros. Aproveite para ver a história da série, que dá voz aos civis que foram obrigados a participar da guerra e nem sequer foram reconhecidos por isso.

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